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Compartilhando a produção, os baianos e a agricultura familiar

A família de São Desidério planta coletivamente em assentamento de Caiapônia

João Gabriel Palhares

Da esquerda para direita, Alvaro, Graziene e Sinizia (Foto: Heloisa Sousa)

    Em uma longa trajetória de idas e vindas, do interior da Bahia ao interior de Goiás, a família Gomes, conhecida como os baianos, compõe hoje uma comunidade que, sustenta curiosa produção coletiva no Assentamento Padre Ilgo. Composta por três mulheres e dois homens - além de esposos e esposas, filhas e filhos, netas e netos - a grande família compartilha desde a plantação de arroz aos derivados de mandioca, como farinha e polvilho. Segundo a agricultora familiar, Edilza Maria, em 2019, a família chegou a produzir 40 sacos de arroz. 

    Sinizia Gomes, uma das irmãs, foi a primeira da família a partir da cidade de São Desidério, no interior da Bahia, rumo a Goiás. Em 1991, acompanhada do esposo - que já estava por aqui, a agricultora desembarcou na cidade de Montividiu em busca de trabalho. Após quase um ano,  os dois retornaram à Bahia para buscar o restante da família. Ainda em pequenas partes, os baianos passaram mais um curto período em Goiás e, depois, retornaram ao seu estado, ficando apenas Sinizia para trás.

    Após 3 anos trabalhando no interior de Goiás, a agricultora familiar retornou à Bahia  para buscar a sua família . Em 2004, passando os dias da semana na cidade, e os fins de semana no campo, Sinizia esperava por sua terra no antigo Acampamento Juvenal. Agradecendo sempre a deus, a agricultora conta que, em 2009 ela conseguiu sua terra no Assentamento Padre Ilgo e permanece lá até hoje.

    Não muito diferente de Sinizia. Edilza e Santana dizem que seguiram quase a mesma caminhada da irmã até a chegada no Assentamento Padre Ilgo. Segundo elas, em uma manhã chuvosa, por volta das cinco horas da manhã chegavam ao que hoje é a sua fartura. Lembrando e rindo, após a longa viagem, contam como ficaram divididas entre montar barracas e dormir ao relento nas primeiras horas de acampamento. Mas no final, como elas mesmas dizem, “nós estamos aqui até hoje, então deu tudo certo”.

Coletiva e compartilhada - Bastante unida, a família dos baianos conta sobre o seu trabalho em conjunto. Com uma colheita de cerca de 40 sacos de arroz no ano de 2019, eles dizem que neste ano não irão produzir o mesmo grão. Mas, já articulam outros tipos de produção. Vistos como uma cooperativa informal, os baianos estão mais além. Há produção familiar, coletiva e compartilhada.

Da esquerda para a direita às irmãs Edilza, Santana e Sinizia, a cunhada Aneride e a coordenadora de finanças da FETRAF-GO, Agajoene (Foto: Heloisa Sousa)

    Segundo a família, quando não plantam na parcela de um dos irmãos, plantam em outra, como uma espécie de rotatividade. Trabalhando todos juntos, após o tempo de colheita, pegam todos para limpar a terra de cada um até chegar a última. As produções, para além do consumo da família, também vão para encomendas que são feitas.

“Hoje eu tenho minha terra, gosto da minha terra, não gosto de ir para a cidade. Quando eu vou, fico doida para voltar para trás. Eu, meu esposo, e meus filhos estamos todos bem aqui”

    A terra então, segundo a família, é independência. Na cidade, segundo eles, havia pouco ganho e sempre alguém a mandar. No campo, eles trabalham para eles mesmo, não se submetendo ao mandato de outros. Mas acima de tudo, no campo há fartura, há liberdade, há trabalho coletivo, compartilhado e há agricultura familiar.

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