O dia em que,
vestido de mulher,
Brizola chegou em minha casa
Willian Vinícius
Foto: Willian Vinícius
Peruca, batom vermelho, vestido, salto alto e muita maquiagem. Ele quase não acreditou quando viu, foi a maior surpresa do mundo vê-lo daquela maneira. Brizola era o retrato do homem viril e forte.
Era um dos últimos caudilhos de respeito, andava armado. Ele o ouvia na rádio, com o tom de voz elevado, parecia sempre estar brigando com alguém, defendendo com unhas e dentes aquilo que acreditava.
Ouvia também na rádio, que os comunistas estavam sendo cassados, os militares tomaram o poder, João Goulart já não estava mais aqui, tinha ido embora. O pai falava que Brizola continuava aqui lutando pela democracia, mas seria melhor ele ir embora, se não o matariam. Um comunista que nem ele deveria ser eliminado, é claro que ele é uma ameaça aos homens de botões dourados.
Brizola estava no Rio Grande do Sul, tentou sair de navio e não conseguiu. Veio pra Constantina, o município que ele havia ajudado a se emancipar. Nunca, jura, tinha visto uma movimentação tão grande. Entrou na casa e todos da vizinhança estavam para ver e ajudar.
- Ele tem que fugir! Vai ter que ser disfarçado!
Eram os gritos que ouviu enquanto esperava na sala. Esperava qualquer coisa, mas quando Brizola saiu do quarto, foi a coisa mais engraçada de todas.
Ilustração: Júlia Barbosa
- O homem tá parecendo mesmo uma mulher, que produção é essa?
Brizola tinha que sair correndo dali, precisava pegar o avião pra ir para o Uruguai e ninguém podia ver ele assim.
- Que imagem Brizola vai passar, o exemplo de Gaúcho, vestido de mulher? Isso vai dar o que falar!
Chegou a notícia, finalmente.
- Brizola conseguiu escapar, ninguém percebeu que era uma mulher.
A fantasia foi bem feita mesmo, enganou até a polícia do Rio Grande do Sul que se acha a melhor de todas. Falando em polícia, depois da notícia eles chegaram em casa e logo foram ao pai:
- Você escondeu o Brizola aqui? Onde ele foi?
O pai não contou de jeito nenhum o que aconteceu e foi levado pela polícia. Ficou uma semana preso, voltou todo machucado e com as roupas rasgadas. Mas, assim como Brizola, que fez o impensável e se vestiu de mulher, provou ser um homem de verdade e o não entregou.
José de Moncir, o Brizola do Assentamento Varjão (Foto: Willian Vinícius)
Brizola, o Leonel, voltaria ao Brasil em 1979, mas retornou vestido de homem mesmo. Antes, havia sido governador do Rio Grande do Sul. Depois, do Rio de Janeiro por duas vezes. Foi o único político eleito para governar dois estados diferentes.
Já quem conta esta história, o José de Moncir, também Brizola, encontrou outro caminho longe do Rio Grande. Assim, como o primo distante ou importante, lutou pela reforma agrária. Hoje, vive no assentamento Varjão, em Caiapônia. Mas não esquece, de jeito nenhum, a imagem do Brizola vestido de mulher. E tem como esquecer?
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